terça-feira, março 18, 2014

Revolta?

Hoje almocei com uma amiga de faculdade com quem já não estava há alguns anos. Vamos falando (o facebook tem esta coisa maravilhosa de nos permitir saber de algumas pessoas, embora tenha em relação a isso sentimentos contraditórios), vamos trocando umas mensagens, vou segundo o blogue dela, mas já não estava com ela, no sentido físico do termo, há alguns anos. A M é uma força da natureza, sempre o achei. E assi continua. Apesar de toda a merda por que já passou na vida, apesar de todos os problemas que ultrapassou, apesar de, no seu dia-a-dia, ter de fazer certas rotinas que deixariam muitos sem vontade de sair de casa, ela não baixa os braços, segue em frente, com a sua inacreditável força de viver.
Foi um almoço memso muito fixe. Tão fixe que demorou duas horas e meia. Falámos de tudo e de nada, parecia que não tinham passado tantos anos, parecia que tinha sido ontem, há uma semana, a últim a vez que nos encontrámos.
A M. tem a particularidade de ser parapplégica há 23 anos. E, quando falávamos sobre isso, disse-me que nunca tinha tido um momento de revolta ou de profunda tristeza, de chorar dias seguidos. Não tinha, ponto final. Assim, de repente, aquilo pareceu-me estranho. Mas como é que é possível que fiques numa cadeira de rodas aos 15 anos e não tenhas tido vontade de partir o mundo ao pontapé.
E ela lá me foi explicando os seus motivos e eu percebi, juro que percebi. E foi interessante porque dei comigo a pensar em mim, no meu caso, na minha doença e na forma como também não me lembro de me fechar a chorar ou de pensar que me ia entregar à doença ou à morte.
Como diz a M, é claro que preferia andar (assim como eu preferia ter estômago), mas em relação a isso não se pode fazer nada. Quando temos um problema grave, temos de o resolver, de seguir em frente, ir ao essencial e deixar o acessório.
É evidente que há dias de merda, dias maus, tristes. Mas haveria sempre. No meu caso com ou sem estômago, com ou sem quimio; no caso dela, com ou sem cadeira de rodas.
A M. pôs-me a pensar na vida, o que é sempre bom. Pôs.me a pensar que a adversidade pode simplesmente fazer de ti uma pessoa melhor, mais resiliente, mais combativa. E não é preciso andar a lutar por causas, a gritar na praça pública. Basta que sejamos verdadeiras no que fazemos.
E acho, que no nosso caso, há um factor comum que faz toda a diferença: o amor que temos à vida. Viver é tão bom que vamos vender cara a nossa morte.
Obrigada M, adorei.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Tenho uma grande admiração pelas pessoas que podendo ser revoltadas, amarguradas, deprimidas, tristes, não o são, não baixam os braços e fazem exactamente o contrário, porque a vida é boa e à que valorizar o que temos de bom.